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Capítulo 20: Mais um dia normal







- Ei, Sally.- a garota de cabelos verdes perguntou, remexendo em sua mochila.

- O que foi, Ellie?

- Você se lembra de termos tantos baús assim?

- Baús?- a garota perguntou, se aproximando.- Santo Arceus! A GENTE TINHA TANTO ASSIM? Deve ter uns doze por ai!

Na mochila de Ellie, havia pequenos baús, o que explicava por que Ellie tinha dificuldade de levantar. Tanto era o peso que logo seus dedos ficaram vermelhos apenas por segurar um pouco e as juntas das mãos ficarem brancas. Deixou no chão, movendo as mãos no ar, como se dissipasse a dor.

- Tsc. Não vamos a um tempo no Xatu Apraisal.- disse, com um tom de conclusão.-  Você pega alguns baús? Está pesado.

- Claro, eu levo a sua mala.- falou, enquanto rodou os ombros e os braços, ouvindo um estalar de ossos.

Sally terminou de arrumar sua cama, deixando-a lisa e o travesseiro alinhado. Depois, calçou os tênis vermelhos, se voltou para o espelho, pegando seu pente azul. Jogou o cabelo curto para o lado, como era o seu gosto e por fim suspirou confiante.

Ellie estranhou, pois Sally não tinha esse costume. Estaria ela tentando novos jeitos de fazer a rotina, como havia mencionado? Antes não arrumava tão frequentemente a sua cama, pois estava sonolenta de manhã. Era por volta do meio dia até as oito da noite que tinha muita energia. 

Então chegou a imaginar que, possivelmente, Sally estaria começando a se disciplinar. Estava fazendo as tarefas num ritmo próprio. Supôs que era a determinação de Sally a ser cada vez melhor. Ellie tinha algumas manias e para ela, era essencial para que tivesse um dia produtivo e com alto desempenho. Desde arrumar seu quarto, alongamentos, alimentação, tudo numa ordem que a fazia acordar rapidamente. Mesmo que nem todos os dias fossem assim, ela deixava sempre um dia de folga para dormir até tarde, depois ficar lendo noticias e descobrindo a sala de jogos da guilda.

Segundo ela, deveria primeiro escovar os dentes. Depois da higiene, arrumar o quarto, se trocar e por fim ir até a cozinha para o café da manhã. E novamente, escovar os dentes. Sally tinha o costume de fazer tudo diferente, cada dia uma ordem nova.

- Você descobriu a sua ordem diária?- indagou, cruzando os braços.

- Não. Ainda estou testando.- falou, colocando os fios rebeldes do cabelo para trás.

"Como? Como ela não descobriu? Ela tentou todos os dias!"- pensou..

- Mas, já faz mais de um mês.- Ellie disse.

- É, eu sei.- disse, olhando-a pelo reflexo do espelho.- E ainda assim, acho mais fácil bolar esquemas de batalhas do que criar uma rotina pra mim.

- Mas é bom te ver tentando. Acho que você chega lá.

Sally sorriu como resposta, mas logo voltou a arrumar seu cabelo. Sua franja não parava no lugar, pensou que o cabelo deveria ter crescido. Só não imaginou que tanto.

- Mano. -exclamou, olhando para a parceira.- É, eu tô um caco.

- Nossa.- se surpreendeu Ellie, dando um passo para trás.- Que astral é esse?

- Sei lá, eu acabei percebendo que algumas coisas que eu mesmo que eu faça, não é o suficiente.

Ela curvou os ombros, num movimento devagar colocando o pente na gaveta.

- B-bom, você faz muito bem a sua parte.- e ela se aproximou, dando um leve tapinha nas costas de Sally.- Eu as vezes sinto que não sou tão boa quanto você.

- Ah, vamos.- respondeu com ironia.- Você é mais esforçada que eu.

- Eu acho que você é mais talentosa que eu.- Ellie disse num tom bravo, segurando a alça da mala com mais força.- Com um pouco de pratica você já fica boa em qualquer coisa. Preciso treinar mais em combate do que você.

- Você esqueceu da vez que eu tentei cozinhar semana passada? Eu DESTRUÍ A COZINHA. Consegui queimar um parto dentro da pia, e não sei como fiz isso!

- Bom, verdade. - e Ellie segurou um sorriso no canto dos lábios. - Mas ainda acho que se você voltar lá, vai ficar tão boa quanto a Cailynn ficou.

- Nah.- acenou com a mão, como se sinalizasse para esquecer - Vamos pular essa parte. Você disse que temos mais baús do que lembrávamos, né?




Na grande barraca de Xatu, o descobridor misterioso, a dupla esperava ansiosamente pelo item no baú. A tenda tinha um cheiro característico de incenso, era um pouco mal iluminada e tinha uma grande mesa redonda, cercada de cartas coloridas e alguns pequenos baús de madeira com algum tipo de pó. No centro, com uma bola de cristal brilhante.

Não frequentavam aquele lugar havia algumas semanas. Toda vez que o visitavam, estava de um jeito diferente, seja com quadros decorativos (ou com algum significado simbólico), novos panos com padrões diferentes e curiosos, o cheiro do incenso. Segundo ele, todos deveriam fazer uma limpeza espiritual e energética sempre que possível.

O homem calvo gritou abruptamente, depois de ter feito alguns gestos estranhos com sua longa túnica e jogou as mãos para o alto.

- PROAAWAAAA! 

Só então se ouviu um "click" e o bau verde e amarelo se abriu. Ele se abaixou, erguendo o objeto acima da cabeça, refletindo no sol da manhã. Ele abaixou o item como se fosse algo precioso, começando a falar com uma voz grave e misteriosa.

- Este é um Def.Scarf. Ele aumenta a sua defesa, assim diminuindo o dano quando você recebe ataques do tipo físico.- e acenou a cabeça calva em concordância.- É isso.

Ellie pegou o item, avaliando-o. Era um lenço de cor amarela e não saberia dizer a diferença dela e dos outros objetos que tinham a terminação parecida. Como saberia diferenciar um Def.Scarf de um Pecha Scarf se não pela cor a na prática de combate?

- Você acha que a Explorer Badge reconhece os itens que pegamos? Como um glossário? Acho prático quando a gente não sabe o que é...- disse Sally, cruzando os braços.

Quando fez isso, ficou sonolenta e a cabeça começou a pender para o lado.

- É, tem razão.- terminou Ellie.- Obrigada pelo seu serviço, senhor Xatu.

- Me chamem de Senhor Supremo.- ele disse, erguendo a cabeça e juntando as mãos, que pareciam desaparecer nas mangas longas do homem.

Fez uma pequena reverencia e se sentou na sua almofada. Pegou seu cachimbo e começou a soprar, saindo bolhas de sabão.

Sally não prestou mita atenção, pois quando parava de se mover, é porque tinha sono. Com um tapinha nas costas vindo da Snivy, ela despertou e se levantou, agradecendo quase que automaticamente e saindo. Ellie curvou a cabeça em forma de agradecimento ao Xatu, não mais que isso e foi embora.


*


- O que vamos fazer hoje, Ellie? É um sábado bem bonito. - disse, antes de bocejar e se espreguiçar, levantando os braços para o alto, devagar.

- Estou pensando.- disse, colocando a mão no queixo.- Passamos a manhã inteira arrumando nossos itens, indo aqui e ali, vendendo a maioria deles. Ganhamos um bom dinheiro e nem sabíamos. O guia da Explorer Badge ajudou mesmo.

- Eu sinto vontade de gastar tudo em Milkshake.- e ela colocou as mãos atrás da cabeça, despreocupada.- Venha, vamos depositar nas nossas contas.

Quando chegaram ao banco do Duskull, esperaram alguns minutos sentadas nas cadeiras. O lugar havia mudado de uma pequena tenda a uma loja física e com ar-condicionado. Sally não gostava do ar frio, parecia seco demais, tampouco Ellie. Ao serem atendidas, um homem de cabelos cinzento as atendeu.

- Bom dia. Em que lhes posso ser útil?- disse cordialmente e Ellie quase sentiu uma pontada na coluna, não sabia o porque.

Apesar de ser apenas mais um Pokémon, havia algo nele que chamava a atenção. Talvez pela elegância e o estilo gótico, roupas que remetiam a eras e costumes que ainda não conhecia. O cabelo perfeitamente arrumado, a voz fina. Ele usava luvas e estava usando um dispositivo diferente. Era uma espécie de teclado, mas com teclas espaçadas e que usava um papel. Sally perguntou o que era aquilo, já que na última vez, não havia isso.

- Ah! É uma máquina de escrever. Eu digito as letras e tudo sai impresso nesse papel, sendo muito prático. O que acha dele, senhorita?

Ele mudou o tom de voz e até mesmo o modo de falar, parecendo mais relaxado. Sally pensou se tinha esse poder de fazer as pessoas se sentirem a vontade ou era mais uma bajulação do Duskull? Ellie começou a se irritar aos poucos. Afinal. da onde ele veio? Seu dia não estava conforme os planos.

- Eu e minha amiga queremos depositar essa quantia em duas contas, sim?

- Um momento.

O homem fez um gesto e uma sombra apareceu de suas mãos. Dali, ele puxou alguns papeis e uma chave, colocando-os em cima de sua mesa. Na mesa de madeira, que mais parecia uma obra de arte, ele pegou uma caneta de pena e começou a escrever. Perguntou valores a serem retirados e depositados. Ele chegou a falar de um documento, que estava para ser lançado e seria obrigatório a todos os habitantes.

- É uma espécie de cartão. Terá seu nome, idade, data de nascimento e origem. Recentemente tem vindo inúmeros Pokémon de outros continentes e em alguns casos, eles usam seu paradeiro desconhecido como vantagem, já que faltam mais informações. Mas com esse objeto as coisas podem mudar. Não é incrível ter documentos práticos?

- Como eles vão ser?- perguntou Sally, demonstrando interesse. - Como podemos ter um?

- Nós ainda trabalhos com papéis. Graças os inventores da Explorer Badge, há um novo tipo de... poder que é chamado de tecnologia. Com esse cartão, será muito mais fácil, útil do que usar papeis. Ao menos, para meus negócios, irá facilitar muito! Ouvi dizer que Pokémon do governo irão de casa a casa interrogando os habitantes... Minha prima deu a luz a uma linda Duskull, que já recebeu esse cartão de identidade.

- Sério? Será que vai funcionar? - perguntou Sally, se virando para Ellie.

- Quem inventou a Explorer Badge? - a outra garota perguntou.

- Um casal, muito inteligente por sinal. Não entendo como, infelizmente. Mas descobri que eles moram na cidade principal. É deveras longe, mas talvez a jornada valha a pena.

- Entendi. Que legal, isso vai ser mais útil do que usar papeis e essas coisas né? Eu quero dar um abraço neles por isso! - Sally se exaltou, batendo as mãos.

O homem sorriu e voltou a fazer algumas perguntas. Quando terminaram de depositar os Poké-Dolares, ele agradeceu com um aperto de mão e uma reverência.

Alguns passos depois daquele lugar chamativo e luxuoso, Ellie cruzou os braços. Tinha algo naquele homem que a deixou inquieta. Pensou se ele não estaria roubando seu dinheiro e disso, fazendo suas próprias artimanhas. Afinal, ainda era tudo por papel. Quem poderia ter certeza que depositou tal quantia e na hora da retirada, se ela fosse diferente?

Mas chegou a conclusão que, se toda a vila confiava nele, talvez valesse a pena tentar. Ainda estava suspeita, mas tentou não pensar nisso.

- Ei, por que a cara emburrada? Vamos pegar um Milkshake e almoçar na Guilda!

- Porque o Milkshake vem primeiro?

- Ah, você prefere antes E DEPOIS?- berrou, tão feliz que suas mãos e pernas tremiam.- NOSSA, ESTOU FELIZ.


*  *



Na guilda, Maya se levantou abruptamente de sua cadeira. Ela segurava sua maçã dourada, ainda intacta. Decidiu-se.

Abriu a porta, quase quebrando a maçaneta com tanta ansiedade e todos que estavam no salão se assustaram, ou deixaram cair suas coisas caírem no chão.

- Alô pessoal! Ainda bem que todos estão aqui. Gostaria de fazer um anúncio! Charles, pegue as cornetas e os confetes.

- Sim, Guildmaster.- falou com uma voz rouca, um semblante sério. Ele carregou uma caixa de fogos de artificio e entre outras artilharias de festas.

Ele se posicionou, ajoelhando ao lado de Maya, pronto para girar o bastão.

- Nós todos vamos em uma exploração!

PROOM e confete foi jogado, caindo no chão, mas o barulho surpreendeu todos. Após a noticia, os membros da guilda sentiram mais  interesse nos artigos de festa do que a própria exploração.

Bidoof, estava impressionado com os fogos, com seus olhos brilhando e as mãos tremendo de excitação. Embora seus colegas ao redor tivesse um certo receio de se aproximar, já que poderia facilmente explodir.

- Ei, crianças.- disse Charles, cerrando os olhos. - Esses não funcionam.

Aliviados, eles se aproximaram mais do jovem, que ofereceu o objeto, como se fosse algo muito valioso, mas animado por compartilhar.

- Não é legal?? Eu adorei, poxa vida, poxa vida!!

A Wigglytuff se aproximou devagar, remexendo nos cachos encaracolados de Heitor. Ele corou e abaixou a cabeça, constrangido pelo carinho.

- Charles comprou esses para usarmos hoje! Mas foram poucos... Se fosse por mim, teríamos um festival de fogos de artificio agora mesmo! Alice, quero um quentão e uma pamonha pra hoje, sim?

- Pode deixar! - e a Chimeco, junto a Riolu, rumaram para a cozinha.

- O festival é daqui a duas semanas. Mais ou menos. - Louis falou, cruzando os braços. - Vai ser muito barulho...

Sunflora se aproximou com um sorriso maligno, como se fosse aprontar algo com o Loudred.

- OH MEU ARCEUS. Louis, você não superou seu medo pelos fogos? - deu uma cotovelada, não se importando que fora forte demais.

- OUSH, MULHER! - gritou com raiva, se curvando baixo, abraçando a própria barriga por sentir dor.

- Louis tem medo de fogos? - perguntou Ellie.

- O que é quantão? E pamonha? O que esse tal de "fogos de artifícios"?

Todos fizeram silencio, olhando para a Totodile. Ela ficou surpresa de tantos olhares de uma vez só, mas reuniu coragem e tentou falar novamente.

- É que eu não sei... É algo tão diferente assim?

- Minha nossa Sally.

Maya se aproximou, estendendo os braços longos para ela. A abraçou com carinho, enquanto a Totodile continuava sem entender nada.

- Aqui, aqui minha jovem. - consolando ela, deu alguns tapinhas nas costas.

- O festival é daqui a duas semanas é um evento anual, sabe? Vai ter muita barraca com jogos e culinária, apresentações e danças.- A Snivy falou, tentando ser o mais franca possível.

- Culinária. E na culinária tem... - e Maya a soltou do abraço. - Você disse espetinhos Ellie?















Notas da Autora #20



Mas olha só quanto tempo. Passou de novo né, que coisa :v

Eu tenho tentado escrever, agora pouco que minhas férias começaram né, e já tenho um monte de coisa pra fazer. ;-;

Em questão do capítulo, vamos lá, spoilers.


* * * *

Eu quis dar a entender que Sally é como um réptil, sabe? Ou um tipo de réptil, ou então criando um novo bicho que se enquadra por ai. Ela é meio zonza de manha e de noite, coitada, só funciona em período integral. Huah.

Ellie também não gosta de coisas má feitas e está se tornando aquele tipo de pessoa corrompida pelo sistema que a fez se ornar mais responsável. Mas olha só. ( ͡° ͜ʖ ͡°)( ͡° ͜ʖ ͡°)

E eu nem tinha comentado sobre baús, era como se eu só tivesse jogado as coisas, eu realmente não gosto de ler e escrever começos. Ah, assim como a mudança de algumas lojinhas! Achei que seria bom, quem sabe se aprofundando aos poucos nos outros personagens! (inclusive to devendo desenho até hoje, :v)

O fato é que vai começar aquela coisa bem doida no jogo, que é a exploração. A quem jogou, tem uma ideia do que pode vir a acontecer, e aos que não jogaram, tudo bem! Vou mudar algumas coisas mesmo, nyeheheeheheh. ( ͡° ͜ʖ ͡°)( ͡° ͜ʖ ͡°)


E não tem muito mais o que dizer por aqui, (exceto que meu note não funciona como antes, só contribuindo mais para minha vontade de procrastinar) então boa leitura!



Notas da Autora#19



YEY! Segundo capítulo desse ano!

Achei interessante trabalhar nele. Mostrar um POV da Maya e um de Ellie, e que ficasse interessante e trazer mais elementos pro futuro. Ainda estou planejando e escrevendo aos poucos. Aos leitores, agradeço por me acompanharem até aqui.

Vamos ao capítulo!

Primeiro, temos Maya na sua salinha. A historia dela poderá ser contada assim, ou nos próprios capítulos dela. Eu acho bem legal, e poder dar umas modificadas ou escrever algo nada a ver com o jogo. ADORO.

Ela é danadinha ( ͡° ͜ʖ ͡°)( ͡° ͜ʖ ͡°) (e Charles um Tsundere)



E Ellie! Ela teve que decidir o que fazer. Se desespera facil, ou então fica com muita raiva. São dois lados da mesma moeda, e ela não consegue pensar mais a frio como Sally. Mesmo ela sendo mais logica e sistemática, numa hora dessas ela pega fogo. :v



E é isso, muito obrigada por lerem! Até a próxima.


Capítulo 19: Apple Woods






Maya não teve uma boa noite de sono havia alguns dias.

Pensou que poderia ser decorrente da presença do sobrinho, que andara provocando os membros da Guilda. O que poderia fazer?

Ele era um jovem que precisava de disciplina, é claro. Mas nem sua irmã conseguiu lidar com ele. Maya se ofereceu para ajudar na educação que sua irmã não conseguiu. Por que ele era tão indisciplinado? Pensou em alguns métodos, mas parecia que não funcionavam. Desde de pedir pequenos favores, como seguir as regras da Guilda. Maya mesmo explicou as mais básicas e importantes. Saberia que se Charles desse as instruções, ele provavelmente se irritaria ou dormiria no inicio. 

Maya estava disposta a não desistir dele.

A Guildmaster acreditava que a maldade não existe nos Pokémon. Talvez eles fizessem isso por outros motivos. Viajara muito antes de se estabelecer com sua Guilda com Charles. Ela acreditava que todos eram bondosos, mas por motivos como poder, egoismo e raiva eles acabassem por deixar essas emoções a tona. Acreditava que não era preciso ter essas emoções ruins, que apenas trazem infelicidade ao que estão ao seu redor. 

Por isso, sempre sorria, vivia alegre e feliz. É claro, havia situações que não haveria como contornar, ou que alguém simplesmente não quisesse a sua ajuda. Mas não era o caso de Alfonse.

Maya sentia algo a mais, que ele queria ajuda. Não somente ele, mas parecia que sua Guilda atraia certos tipos de Pokémon que precisavam de ajuda. Porém é claro, as coisas não podem se sustentar sozinhas. Nesse sistema, ela e Charles tentavam driblar algumas coisas. Precisavam manter a Guilda na ativa, manter a moral dos integrantes, custos. Se oferecessem as principais necessidades (uma casa, trabalho, alimentação e cuidados médicos e segurança) pensou que, talvez, não seria de tão mal tomar o resultado do trabalhos dos integrantes. 

Percebia que Ellie e Sally reclamariam muito que suas recompensas fossem minimas, mas logo elas também perceberam que não precisariam se preocupar com tantas coisas se não estivessem numa Guilda. Pelas regras, elas poderiam sair da Guilda quando se graduassem. E ainda poderiam permanecer se quisessem. Não somente elas, mas todos da Guilda.

O que os mantinha ali? Pensou várias vezes. E todas as respostas foram diferentes, até chegar a uma conclusão. 

Eles gostavam de estar ali. Unidos como uma família, criando laços fortes, se unindo para manter o seu dia a dia. Era assim que os Pokémon evoluíam.

Se inclinando para frente, a cadeira rangeu e saiu de seus devaneios matinais. A mulher de cabelos rosados havia tarefas a serem compridas, e isso tomaria boa parte de seu dia.

Respirou fundo e sentiu algo crescente em seu corpo- como uma energia alegre. Sorriu novamente e arrumou os papeis, com um novo vigor que a fez terminar logo, arrumando as pastas e outros documentos.

Num momento de distração, Maya contemplou seus tesouros, lembranças de anos de aventura. Pedras, pedaços de mapas, cristais. Até mesmo algumas coisas que nem sabia, mas guardava pelo carinho. Avistou seu Defend Globe, um item que trazia suas memorias a tona. Pegou o objeto frio, sentindo sua textura e peso, e o abraçou.


Suspirou, se tranquilizando, relaxando seus ombros. Deixou o objeto em sua caixinha, a deixando aberta como sempre fizera. Voltou aos afazeres da Guilda, começando a limpar sua Sala. Pegou uma vassoura, panos e alguns outros produtos de limpeza. Cada gesto era cronometrado e calculado, como se fizesse aquilo por anos, e cantando uma canção de anos vindouros. 

Algum tempo depois, terminou de limpar sua sala. Afinal, não gostava de sujeira. Viu uma sombra no chão da porta, e supôs quem seria. Se aproximou devagar, ainda cantarolando, medindo seu tom de voz, diminuindo quando chegou perto. Abriu-a rapidamente, que ate a mesma foi para trás. 

Charles apareceu, surpreso e com um olhar assutado. Tão assustado que, deixou sua caderneta cair, assim como suas canetas.

- M-me perdoe, Guildmaster!- E se abaixou para pegar os itens, rapidamente. Ele tinha um rubor nas bochechas, o que o fez se abaixar mais o rosto, cobrindo com o seu cabelo.

- Oh, Charles?

- S-sim, Guildmaster?-Perguntou, já de pé e arrumado.

- Eu gosto do seu cabelo solto... Por que não usa ele assim mais vezes?

- J-já conversamos sobre isso, Guildmaster.-Disse, desviando o olhar.

A mulher de rosa se aproximou, e por ser mais alta que ele, o olhou de perto, na tentativa de esconder seu rosto, Maya o encarou ainda mais, colocando as mãos na cintura. Com um sorriso vitorioso no rosto, ela se aproximou e o beijou na bochecha. 

Estático, ele sentiu um arrepiou e começou a falar mais ativamente.

- M-mestra, não pode!

Ela sorriu presunçosamente. Acariciou a cabeça dele, que ficou sem reação, e possivelmente mais corado.

- Continue o bom trabalho, Charles. Nos vemos no almoço, sim?

- Claro.- Disse, com toda a sua coragem restante. Ele fez uma reverencia, e depois deu meia volta, caminhando pela Guilda. Ela o observou ir até aos dormitórios, como se estivesse perdido. Sabendo a rotina dele, hoje ele deveria conferir os quadros de Quests. Mas bem, ele poderia fazer isso outra hora.


* * * 




- DESVIA, DESVIA SALLY!- Berrou Ellie.

A Totodile sentiu um arrepio na espinha, e tratou de se virar o mais rápido que pode, mas não foi o suficiente. O Beedrill raivoso acertou de raspão o seu braço, rasgando seu blusão azul. Sally aproveitou a chance de estar atrás dele e chutou, um golpe tão forte que seu pé doeu com o impacto.

O Pokémon guinchou, caindo derrotado no chão.

- Por Arceus! OBRIGADA ELLIE!

Sally andou apressadamente na direção de Ellie, que também derrotara um outro Pokémon, que desapareceu. Ela colocou as mãos na cintura, numa pose de reprovação.

- Você está bem distraída hoje.- Disse, cerrando os olhos.- O que foi?

Sally pareceu se incomodar com a pergunta de Ellie. Parecia invasiva e muito obvia até demais. Sups que, agora que não havia sinal de outros Pokémon por perto, conseguiu relaxar os ombros. O gesto doeu, e colocou a mão na ferida.

- Ai ai!- Reclamou, dando alguns passos para trás.- Nossa, isso doeu. Ei, oque é isso? Tá meio roxo... E... Sangrando...

A garota olhou a própria mão coberta de sangue. Seus olhos arregalaram e tentou falar algo, mas recuou alguns passos para trás, como se tentasse esconder algo da Snivy. Por um tris, Sally não sentiu mais as suas pernas, e sua visão foi falhando. Tombou e caiu no chão.

- Sally!

A jovem de cabelos verdes se agachou, segurando sua cabeça no colo, enquanto os olhos de Sally ameaçam a fechar.

- Eu acho que você foi envenenada. E paralisada. Meu Arceus que dia de sorte...

- Beedrills podem fazer essas duas coisas ao mesmo tempo?!

- Sei lá Sally! Mas olha o seu braço, o que eu faço?!- Disse em desespero, a voz ficando mais aguda.

-E-eu não sei! Mas tá doendo... E não consigo me mexer!- Reclamou, com a boca errada.

- Nós.. não temos mais as Berries para isso... Eu só tenho esse Reviver Seed.

Sally não conseguiu mais falar, apenas abrir a boca e rosnar. Estava brava pela própria ignorância, de ter deixado itens essenciais como esse para trás, apenas para pegar mais itens e vende-los.

- Sally... Por favor, me diz, o que eu faço? Eu posso sair e te deixar com um Reviver Seed, enquanto procuro algum antidoto e-

- N-não sei...- Disse entre os dentes, o corpo começando a tremer.- Vá pegar sozinha as Apples.

- Oque? Não! E se você desmaiar? Voltaremos para a Guilda sem nada e de quebra perdemos itens!

Sally fechou os olhos, sabendo que não mudaria de resposta. Sua teimosia tinha um ponto: quanto mais rápido Ellie pegasse as Apples, sairiam dali a tempo de voltar antes do jantar. O que seria delas de Maya não tivesse as Perfect Apples? Talvez nada. Ou talvez ela chorasse ao vivo, sendo sensível quando o assunto era Perfect Apples.

Não sabia e não queria arriscar seu pescoço, e de quebra, falhar numa simples missão.

Pensando novamente em seu plano, sabia que não era 100% eficaz. E se algum Pokémon visse Sally indefesa e se aproveitasse? Roubasse seus itens ou então dar um golpe final?

Seria sensato dar o seu Reviver Seed  para Sally. Mas e se achasse uma Pecha Berry? Elas mesmo tinham que ter jogado fora algumas delas, por haver muitos outros itens na mochila. Reviver Seeds eram raros e muito caros de se achar, principalmente para Pokémon de seu Rank e com seu número de Dungeons ainda restrita. Tivera sorte de achar um deles até agora.

Ellie deixou o Reviver no colo de Sally. Decidiu que usaria sua Luminous Orb, e com sua Explorer Bagde, tentaria chegar até os itens. Se Sally desmaiasse, teria o Reviver Seed, mas do contrário, se achasse uma Berry-

"Não! Estou enrolando demais tentando achar um jeito! Droga, Sally, eu sei que você não faria isso! Você é muito leal..."

E imediatamente já sabia a resposta.

Olhou para baixo, vendo a respiração de Sally acelerar e a ferida ficar ainda maior. O rasgo da blusa estava cheio de sangue e de um liquido vermelho. Deveria limpar, pois mesmo que Sally se curasse, poderia haver o risco de ficar envenenada de novo. Venenos de Beedrill eram fortes por já estarem na sua forma liquida e entrarem na pela mais rapidamente.

Pegou um spray pequeno, molhando-o o pano extra e se pós a limpar. Seria mais fácil se tirasse a blusa, então puxou devagar a blusa da garota.

Notou que, nos braço infectado, a região ficou num tom roxo, e o corte inchado. Sua respiração acelerou, e tentou pensar no que deveria fazer.

"Sim, eu limparei sua blusa enquanto espero você desmaiar e usar um Reviver Seed. Realmente, a ideia de te ver agoniando é muito boa!"

Ellie já sabia de tudo isso. Mas com seus pensamentos a mil, suando e tremendo, não sabia chegar a uma conclusão concisa. Ficou com raiva, e isso apenas piorou.

Tentou achar outra alternativa. Bateu no rosto de Sally com alguns tapinhas, mas os olhos se fecharam e a cabeça tombou. Sentiu o pulso, e ainda estava viva.

"Droga!! Eu tenho Oran Berries, mas isso só vai atrasar o desmaio dela!"

Mas Ellie também não queria ver Sally esperando para desmaiar. Era sofrido, e via as veias do braço pálido da garota ficando roxas.

"Eu.. só posso esperar. E deixar o reviver Seed com ela. Mas poxa... Ela está sofrendo..."

Sabia que no fundo, deveria dar valor a sua amiga mais do que qualquer um que conhecera. Sua inesperada aparição mudou sua vida, virando-a de cabeça para baixo, e tornando seu sonho realidade: explorar Dungeons. Portanto, não a deixaria de lado.

Sally estava impotente naquele momento. Tão indefesa, que qualquer Pokémon poderia vir e derrota-la, ou até mesmo roubar seus itens.

Deixou o Reviver Seed nas mãos de Sally, e colocou a sua mão livre em cima delas. Com a outra mão, segurou atrás de sua cabeça. E torceu para que não tardasse que Sally acordasse.


*



Enquanto esperava pela angustiado desmaio de Sally, acabou se lembrando de algumas lembranças.

Quando era menor, se lembrava da sua irmã pegando no seu pé para que ela aprendesse os cuidados básicos e primeiro socorros. Era chato no começo, pois não entendia muito, e ao ver alguém sofrendo, ficava em pânico. Ser raptado, por exemplo, é algo que subia em sua cabeça, tão fácil. Mas ver alguém querido sofrendo, era ainda pior.

E que nas horas que ficava sozinha, lia vários livros, e percebeu que, queria conhecer o mundo. Mas teria que lidar com as consequências, e o melhor seria saber lidar com elas. Por isso, aprendeu com afinco tudo que lhe fora ensinado.

Em algum momento da sua vida, ela percebeu que tinha uma pedra, e que tentava guardar de todo modo. Não se lembrava de como ganhou, era como se sempre estivesse ali.

E subitamente, ao tocar sua pedra, sua cabeça começou a girar e girar, um enjoou forte tomou conta e quando percebeu, tudo ficou preto.

"Não! Isso de novo não..."





Era um lugar diferente. Parecia que havia saído dos livros de fantasia, com todas aquelas árvores, construções e aquele pedestal enorme. O céu era de um azul belo, como se não tivesse visto nada disso antes. 

Mas estranhamente, tudo começou a ficar acinzentado.

As pedras que adornavam o chão e faziam terminações inteligentes, era de um mármore claro, porém ficou cinzento. Algumas erva daninhas surgiam por entre as frestas. Os pilares estavam manchados pelo sol, e havia muitas folhas secas no chão, cobrindo parte do caminho. Os degraus, estavam com poeira e  sujos também, com uma camada preta onde havia conexão com outras partes do monumento. Parecia que ninguém visitava esse lugar a muitos anos e anos.

Não sentia o cheiro, calor ou frio, e muito menos a energia das árvores, como quando estivera em Apple Woods.

Sentiu uma sensação estranha em seu estomago, algo como dor de barriga. Sabia que algo estava por vir...

Por um momento, viu a sua irmã, na sua frente, confrontando alguém bem maior que ela, e com uma aura sombria tão forte. Ela estava em desvantagem, e gritava algumas coisas, mas seu oponente- praticamente as sombras- não recebia quase nada de dano. Até que ele desapareceu, os rastros evaporando no ar conforme giravam.

Ela estava exausta, e sua arma fincou no chão, segurando-a de cair totalmente.

- Irmã!- Gritou, correndo na direção dela. 

A outra começou a se erguer. Mas quando tocou seu ombro, sua mão atravessou o nada, e a imagem de sua irma tremeluziu. Não era real.

Atônita, ela quis sair do sonho. Do que adiantava estar ali se não era real?

Ela estava prestes a chorar quando a sombra apareceu novamente, e engoliu as duas por inteiro.





- IRMÃ!-Gritou, voltando a realidade.

Ela tentou se recuperar, medindo a respiração, e não pensar em nada. Mas suor escorreu pelo seu rosto, e começando a misturar com as lágrimas. Ela não se lembrava disso. Poderia ser uma memória? Ou apenas um sonho?

- N-não, não pode ser. Eu sei que... Eu sei que não!- Disse para si mesma, tentando se convencer.

- Heya, Ellie, o soninho tava bom, mas por que cê ta chorando?

Ellie enxugou as lagrimas, se aliviando a escutar a voz de Sally. Olhou para baixo, e percebeu que ela ainda estava deitada no seu colo.

- S-ally? Você está bem?- perguntou, fungando.

- Eu tô ótima na verdade! Uma sonequinha era tudo que eu precisa!- Falou, mostrando um sorriso afiado.- Quanto tempo se passou?

Sally se levantou e espreguiçou os braços, e ofereceu a mão para Ellie, que percebeu que suas pernas estavam dormentes. Com um pouco de esforço, ela se ergueu também, ainda instável.

- Eu não sei. Eu meio que tive um sonho estranho também.

- Que ótimo! Sonhos estranhos me deixam mais animada pro dia a dia, cê não acha?

- Não. Definitivamente não.

- Ah, bom. Tudo bem.- Se conformou, mexendo a cabeça para frente.

- Você está bem mesmo? Digo, não sente algo estranho no seu corpo, como um veneno?

- Que nada! -Disse, olhando para o blusão.- Nossa, isso aqui foi um estrago e tanto! E de todo modo... Obrigada por ter cuidado de mim! Acho que você fez a escolha mais sensata! Valeu mesmo, Ellie. E depois, vou pedir ajuda pra Teresa. Isso aqui não vai arrumar sozinho como nas outras vezes.

- Tudo bem, Sally.- Suspirou pesadamente, abaixando os ombros, que mais pareciam levar tijolos nas costas.- Eu só pensei no que você faria. Acho que você não me deixaria assim.

- É, não mesmo.- Sorriu com carinho, voltando a vestir a blusa.- Você teve um sonho bem doido né? Você me conta no caminho. Vamos correr, se não Charles vai acabar com a gente!

Com um animo revigorado, Ellie concordou, e seguiu Sally, para a ultimas salas da Dungeon.




("Ow me conta ae Ellie, qual cê acha que vai ser o rango de hoje?"

"É serio Sally?")
























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