Posted by : WhiteVir sexta-feira, 21 de dezembro de 2018





- Sally, eu não quero explorar hoje.

E foi com essas palavras que Sally levou um susto, pela primeira vez há um bom tempo.

Sally era energética, não aguentando ficar parada por muito tempo. Estava acostumada com as surpresas das Dungeons que frequentava, e até mesmo se sentia cansada por explorar o mesmo lugar várias e várias vezes, salvando Pokémon, achando itens. Ela realmente queria partir para uma ação maior.

- Ué, por que?

A Totodile se virou, segurando sua mochila nas mãos, como se estivesse ansiosa demais para começar o dia.

- Eu simplesmente... Não estou com vontade.- Respondeu.- Fizemos outras Quests até nesse fim de semana e eu estou exausta.

A garota de cabelos verdes falou, como se não houvesse animo em sua voz. Olhando mais atentamente, Sally viu um traço de baixo dos olhos da Snivy, um pouco escuros. Talvez ela não tivesse ido dormir bem noite passada, afinal. Ou simplesmente tivera sido uma semana bem cansativa para Ellie, emocionalmente.

- Sabia que sete dias trabalhando sem descanso faz mal?- Ela disse, se enrolando no cobertor.- Eu acho que vou fazer fotossíntese mais tarde, ainda não é nem nove horas.

- Somos favorecidas por poder trabalhar as oito horas da manhã.- Disse Sally, deixando a mochila na cama e se alongando.- Parece que as pessoas até acordam de bom humor.

- Menos o Louis.- E Ellie reprimiu um riso.

- É, menos o Louis.- Sally concordou, não deixando de sorrir ao se lembrar do Loudred, que gritava praticamente todas as manhãs depois das oito e dez.

Ele era tão rigoroso nas tarefas quanto Charles. Sempre era o primeiro a acordar e o ultimo a dormir, conferindo as tarefas, como segurança (que ele mesmo projetou) e o portão. Apesar do semblante sério, Sally sentia vontade de rir ao ver um Pokémon daqueles ser tão rígido. Havia conhecido um Whishmur semana passada tão alegre que se perguntou se espécies de Pokémon não teriam similaridades, como sempre serem sorridentes e alegres. Aparentemente não.

- Ei, hum, então eu direi ao Charles que eu faço trabalho dobrado hoje. Certo?

- Queria ter essa vontade hoje.- Disse Ellie, baixinho.



*



Sally fez sua rotina normalmente.

Mas notou que, não era apenas Ellie que estava desmotivada hoje.

Heitor estava distraído, mas de cabeça baixa, como se olhasse o chão e para nada mais. Quando trombou em Louis, o Loudred não gritou com o jovem Bidoof como sempre fazia. Apenas murmurou algo e saiu, trancando-se na sua sala.

Viu Teresa, a mulher Sunflora que com seu avental, saiu da Guilda sem sorrir. Até mesmo o jovem Corpfish, que com sua estatura alta e magra, não falava mais sua tipica frase "Hey hey hey", para qualquer vez que se misturava em conversas com outros exploradores que ficavam no segundo andar, pegando missões.

Terminado seu café da manhã, Sally concluiu até mesmo que a cozinheira Alycia e sua nova assistente, Cailynn, estavam desanimadas. Mesmo sendo a primeira semana da Riolu, ela estava com uma face amuada, como se tivesse comido pão molhado.

Sally não sabe o que levou a esse pensamento, mas achou engraçado juntar pão e água.

"Comer separado deve ser até bom, mas pão molhado ninguém merece né?"

Saindo da cozinha e indo para o salão, conseguiu ouvir seus próprios passos de tão silencioso que o lugar estava. Não havia Pokémon passando por ali, nem mesmo para a pequena tenda de Shimezo, que esboçava sua reação todos o dias, a mesma. Não sabia dizer se estava feliz, triste ou preocupada. Isso dava arrepios em Sally, por não saber ler reações de alguém.

A tenda de Croagunk era similar aquelas tendas como Treasure Town havendo um formato do rosto do Pokémon que atuava naquele lugar. Era um ambiente um pouco escuro, com varias prateleiras e potes (sabe-lá o que tinha dentro), outras caixas, e itens que Sally nunca tinha visto e reparado até o momento. No centro, havia um caldeirão com um liquido verde dentro, soltando bolhas pesadas que se desfaziam no ar, soltando um liquido verde e gosmento. Mas o cheiro não era ruim, ao menos.

A jovem tentou se aproximar da Croagunk, que apenas a olhou, virando sua cabeça devagar enquanto mexia em seu caldeirão. Ela piscou lentamente, como se fosse um sinal para a Totodile dizer algo.

A Totodile então se sentou em um dos bancos, e moveu sua mochila para o balcão. Remexeu sua mala, nos vários zypers e bolsos até achar um item novo, que ela mesma não sabia para que servia. Era uma especie de placa esverdeada, que continha algumas estranhas palavras, em forma de Unows.

A Croagunk pareceu se interessar por um momento, parando de mexer a colher do seu caldeirão e ficando a frente de Sally. Como se fosse um predador,  com olhos brilhantes e o corpo parado. Sua bandana escondia metade de seu rosto, e havia um sorriso como estampa. Sally não se sentiu ameaçada, afinal sabia que Shimezo não faria nada demais. Provavelmente.

- Posso pegar?- Disse o Pokémon do tipo veneno, por entre a sua bandana.

- É claro.-E ofereceu o item.- Você sabe pra que ele serve?

Shimezo começou a analisar, levantando o objeto até a luz, dando alguns petelecos e por fim começou a ler.

- É um Bulbasaur Claw.

- O que isso quer dizer?- Perguntou, segurando a cadeira mais fortemente.

- É um item que aumenta o seu ataque moderadamente.- Disse rapidamente.- Eu sei que há de diversos Pokémon. Se você não é um Bulbasaur, não servirá de muita coisa.- E devolveu a Sally.

- O que eu posso fazer com isso? Já que... Não sou um Bulbasaur?

- Você pode vender para mim, como para qualquer outra loja que aceitar comprar esse item. Ou então trocar com outros aventureiros. Você não é a primeira que tem esse problema.- Suas falas eram rápidas e apressadas, como se tivesse algo a ser feito, e para agora. Até mesmo seus gestos com as mãos eram rápido e precisos.

- Hum... Não tem um jeito de repente anunciar todos os itens que não queremos e o Pokemon interessado entrar em contato com a gente?

- Bom, há um modo.- Respondeu, abanando os ombros.- Existe um meio.

Por alguma razão, essa frase deu calafrios a Sally.



* * *


Ellie conseguiu por fim se levantar da cama. Não usou mais os cobertores, pois tamanho era o sol que entrada pela janela que sequer precisou se esquentar. Se sentiu bem depois de mais algumas horas de descanso, a ponto de se espreguiçar e sorrir.

- Bom, é melhor começar o dia tarde do que não começar, não é mesmo?

Mas subitamente um sono a ameaçou novamente, e ela se sentiu tonta. Como se sua cabeça girasse, seu corpo não respondia mais aos seus movimentos. Sentiu raiva de si mesma, e se forçou a levantar e começar a sua rotina.

Entre alguns rosnados e até mesmo socos no travesseiro, Ellie se sentiu um pouco mais revigorada. Não tardou para que ela saísse da Guilda, descendo rumo a Treasure Town.

Caminhando pelas ruas, sentiu o sol a aquecer, e uma facilidade dentro de seu coração. De algum modo, ver os Pokémon dessa vila a deixava feliz, mesmo que não interagisse com eles.

- Hey, Ellie!- Ouviu uma voz vindo atras de si.

Então, duas pequenas crianças se aproximaram, correndo a toda velocidade, até parar perto da Snivy, que sorriu sem perceber.

- Oi Ellie!- Disse Carl, o Poochyena.

- Carl, Harold! Faz muito tempo que não vejo vocês!- E ela se agachou, afagando a cabeça de ambos.- Como estão indo?

- Nós viemos fazer comprar para a mamãe!- Falou o outro irmão, tão feliz que sequer conseguia se conter de emoção. Seu corpo tremia e seus olhos estavam tão brilhantes que sequer piscava.

- Oh? Bom, eu estou livre hoje. Posso ajudar vocês?



* * *



Sally sabia que em um instante estava no salão da Guilda Hopes and Dreams. No outro, estava a caminho de um lugar desconhecido em baixo da terra.

Croagunk quis mostrar esse lugar a ela, logo Sally concordou. Porém, quando atravessou a loja e viu Shimezo puxar uma lona do teto, cobrindo a loja, sabia que o motivo de fechar era importante. Assim que terminou, abriu uma pequena porta no chão, mostrando um alçapão escuro, podendo ver até os primeiro sete degraus.

- Pronto.- Disse de um modo sistemático.- Agora podemos ir.

E desceu a escada de madeira, quase não emitindo som. Nem mesmo o ranger que escutava quando estava nas escadas de madeira da Guilda. Sally apenas seguiu, desejando que fosse uma nova aventura.

Descendo, descendo mais e mais, naquela escuridão, Sally considerou em pegar sua Explorer Badge. Por que Shimezo não usou lanterna? Não que ela tivesse medo de cair numa escadaria escura...

- Ei, tudo certo em usar uma lanterna?

- Não.

Sally ficou surpresa pela resposta direta e fria, sentindo um calafrio percorrer sua espinha. Ela então não comentou mais nada.

- ...É porque estamos perto. E luzes no escuro... me incomodam....- Ouviu, não parando de descer sequer uma vez, apoiando sua mão na parede. Shimezo falou baixo, como se estivesse triste.

Por fim, ambas se encontraram quando a escadaria chegou ao fim. Pareceu a Sally que levou muito tempo apenas para uma descida. A Croagunk então se mexeu, e não a viu por causa do escuro. Quando estava para perguntar aonde estavam, Shimezo a chamou.

Ela então puxou uma corda e luzes apareceram pelos corredores, penduradas nas paredes, como tochas. Haviam várias, de diversas  cores, tamanhos, como num festival, as escuras. Não eram muito fortes, e algumas piscavam de tempos em tempos, ou então simplesmente apagaram.

Os corredores de pedra pareciam não ter fim. Já o chão, era um lugar de terra seca, com um ar estranho e cheiro incomum. Não tinha o mesmo ar que Dungeons, como quando fazia seus trabalhos.

- Por aqui.- Disse simplesmente depois que se virou e começou a andar.

 "Pra onde iremos? Você não faz nada de errado, não Shimezo...?" pensou em perguntar. Mas assim saberia que toda a graça acabaria. Afinal, era uma aventura onde não se sabia oque viria a seguir, certo?

- Não vamos demorar muito. Ah, e cuidado com.... Os seus movimentos.

- Movimentos?

- Sim. Apenas deixe que eu... resolvo essa coisa de vendas.


A medida que o tempo passava pelos corredores, a curiosidade de Sally aumentou. Aumentou ainda mais quando ouviu outros passos alem delas e por fim, uma sala escura com uma porta azul no centro. Era fria, e tinha apenas uma lampada no centro, que também estava fraca. Shimezo bateu duas vezes na parte de cima da porta de metal, depois três na parte esquerda e por fim um soco na porta. Uma pequena fresta de aço se abriu e dois olhos surgiram.

- Qual é a senha?- Perguntou uma voz rouca, como se ecoasse pelos cantos da sala.

- Ensopado de Magikarp.- Disse, tão rapido que Sally mal conseguiu ouvir direito.

E a portinhola se fechou, e sons de destrancamento se ouviram do outro lado, um a um num ritmo extremamente acelerado, que a porta foi aberta logo em seguida.

- Entre hoje, Eizshom.- O homem de terno falou, antes de acenar para Croagunk e Sally.

- Vamos.- Sussurrou Shimezo, começando a andar por outro corredor.

Sally ouviu vários tipos de som, mas havia barulho em geral. Como se tivesse muitas pessoas aglomeradas.

- Chegamos. Não saia de perto de mim e olho na sua mochila.

- Certo.- Ela falou, tentando observar o que viria a seguir.

Ao virarem o corredor, descobriram que a luz na verdade era um prefacio do que estava por vir. Uma grande caverna iluminada por cristais, tochas e todo tipo de tecnologia que podia ser inventada por Pokemon transformaram aquela lugar em algo bonito, a primeira vista ao menos.

Era cheio de diversos Pokémon, de varias raças que até a jovem Sally não havia visto. Inúmeras lojas servindo e vendendo comes e bebes, itens raros ou falsos, muita falação e até mesmo música. Era como se todos estivessem um festival. Como se fosse a praça de uma cidade, era asfaltada por pedras e calçadas, além da enumeração e nomes por ruas. No centro, havia uma grande Cratera, que Sally se surpreendeu e deixou escapar um "wow".

Era semelhante a um refúgio, pensou Sally. Ou talvez nem fosse, de perto. O lugar era muito grande, e não via aonde sequer terminava. Olhou para cima (de onde vinha uma luz), para os lados, vendo paredes ao redor, como uma cúpula.

- Isso aqui é uma Dungeon?- Perguntou a Totodile, maravilhada o suficiente para não parar de olhar para tudo e todos.

- Essa é a feira da meia noite.- Shimezo falou, com calma.- Embora começamos ela de manha e encerramos depois da meia noite...

- Eu não sabia que um lugar assim existia por aqui. Quer dizer, uma passagem pela Guilda...

- Você ainda é novata.- Bufou.- Aqui, seu nome será Lyssa.

- Ué.- E moveu os ombros, sem se preocupar.- Okay. Por onde vamos?

- Pela rua dos Renegados.

Sally ergueu as sobrancelhas, mas nada falou. Apenas seguiu Shimezo pelas ruas, tentando não esbarrar em outros Pokémon, apesar do fluxo que ia e vinha. E virando a esquerda, subiram uma pequena colina com o chão de pedras pretas, com exceção de alguns cinzentos, espalhados. Ela achou o padrão estranho e seguiu atrás de Croagunk, que andava de modo estranho, balançando demais os longos braços. Parecia conhecer todos os cantos, como se estivesse ali inúmeras vezes.

A frente da dupla, havia uma tenda armada com panos pretos e marrons, porém não menos desorganizada. Havia potes, lampadas coloridas, relógios e até mesmo utensílios específicos, como uma serra pendurada atrás do vendedor.

Croagunk chegou perto e acenou com a cabeça duas vezes, só então o vendedor olhou cima. Era um homem magro, com roupas semelhantes a Croagunk, até mesmo a cor azul marinha era parecida. Ele parecia ter um olhar de poucos amigos, principalmente com sobrancelhas grossas e rosto fino. A boca seca se retorceu e a voz grossa falou de modo curto.

- O que é?

- Ela quer trocar um item.

Tão direto como Croagunk, o homem de braços cruzados olhou para Sally e coçou o queixo com alguns fios da barba por fazer.

- Mostre.- Ele falou.

Sally se aproximou e retirou o item da sua mala, o Bulba Dew. O homem se inclinou para frente, como se estivesse realmente interessado.

- Você mostrou isso a mais alguém?

- Apenas quatro Pokémon sabem disso, e isso nos inclui.- Respondeu, entregando a placa pequena.

Ele tirou um pequeno vidro redondo do bolso e o segurou quando analisou o item. Estranhamente fez gestos parecidos a de Shimezo, levantando, dando alguns petelecos e até mordendo levemente. Sally viu que o homem não deixou marcas e antes de perguntar como fez isso, ele disse antes.

- Duzentas facadas e duas Oran berry e uma Pecha Berry.

- O que isso quer dizer?- Perguntou, se virando para a Croagunk.- Eu vou morrer?

- Significa que é um preço a ser oferecido.- Respondeu.- Nós não usamos os Poké-Dolarés. Apenas itens e uma nova moeda de troca.

- O que é "facada"?

- É o nosso dinheiro e como você pode conseguir as coisas por aqui.- Falou o homem.

Sally ainda estava desconfiada, mas se um membro da Guilda a havia levado até ali, sabia que não valeria pouca coisa. Pensando mais, cogitou a oferta do homem. Colocaria as mãos em algo que nunca viu e possivelmente venderia as Berries ainda hoje, se não as usasse nas missões, a menos que tivesse que usa-las. Afinal seu objetivo não era descobrir tesouros?

- Eizshom, você acha que vale a pena?

E Croagunk apenas acenou. Sally sabia que não deveria falar o verdadeiro nome de Croagunk. Afinal, recebeu um novo nome...

O homem sorriu, um sorriso fino e que mal parecia um sorriso. Deixou o o Bulba Dew em cima da mesa, como se estivesse satisfeito. Deu meia volta e abriu uma caixa, tirando de lá um embrulho.

- Você fez algo útil hoje, Shimezo.- E sorriu de novo, como se tivesse algo escondido atrás disso.

- Meu nome é Eizshom.- Disse com fúria, batendo a mão na mesa. - Até você fica velho demais pra lembrar das coisas.

- Heh heh.- E por fim olhou para Sally.- Veja, esse item não deve cair em... mãos oficiais, se você me entende. Seria um problema e uma papelada bem grande entende? Você pode usar isso em casa... ou usar por aqui, apenas seja esperta.

- Certo.

Sally pegou uma especie de papel, um pouco grosso e de cor cinza. Era diferente dos Poke-Dolares que estava habituada. Mas achou interessante. Não sabia o quanto esse valor seria útil. Talvez guardasse como recordação.

- Bom, tudo bem.- Ela respondeu.- Eu fico com essa coisa que vocês chamam de "facada" e... troco pelo item.

- Entendido.- Falou o Sawk, enrolando o vegetal e entregando a garota.- E essas aqui também.

Pegou uma pequena sacola de papel, depois uma espatula para pegar as Berries nos cestos específicos. Entregou a garota e acenou duas vezes com a cabeça.

- Vamos indo Lyssa.- Resmungou Croagunk, se virando.

- Certo.- Guardou rapidamente na mochila e seguiu Croagunk, pensando se deveria acenar para trás.

- Nem pense em acenar ou dar tchau.- Falou Shimezo, virando a rua rapidamente, fazendo Sally correr.- Aqui não fazemos isso.

Sally nada falou, pois queria perguntar algo havia um tempo. Elas continuaram a andar, e parecia que Shimezo estava fazendo o mesmo caminho para a saída. Sally não queria isso. Ela queria explorar aquele lugar- e descobrir da onde esse cheiro vinha.

- O que é aquela cratera?

Shimezo parou, fazendo Sally se trombar com as costas do Pokémon.

- Você quer ver aquilo?

- Sim.

Bufando novamente, Shimezo virou novamente a rua, e Sally avistou uma placa que dizia "Rua das Lágrimas". Seguia-se o mesmo padrão, lojas com cores de panos diferentes, itens conhecidos e desconhecidos a amostra e até mesmo algumas tinham um cheiro ótimo vindo delas. Sally ficou com fome.

- Existe algo que podemos comer por aqui?- Perguntou, avaliando as tendas.

- Existe. Mas não sei se é seguro pra você.

- Mas por que?

Shimezo deu meia volta, parando novamente.

- Notou que há Pokémon do tipo veneno, planta e fantasma por aqui?

- Bom, até agora não muito.

- Sabe o que pode acontecer se você comer algo daqui?

- ...Não?

- Então, nem eu. Não arriscarei seu pescoço por aqui.

E se virou, seguindo em frente, para a grande praça que era ao redor da Cratera. Desviando de Pokémon, como Vileplumes, Venipedes e Gastlys, Shimezo enfim chegou aonde Sally queria. Estava apenas há alguns passos da grade que separa elas daquele abismo e uma vida segura. Ao seu redor. Pokémon continuavam aos seus afazeres, estando de passagem ou vendendo algo.

Croagunk chamou por Sally, mas percebeu que ela não estava lá.

- Aonde ela foi?!- Disse em voz baixa, como um guincho.

E refez o mesmo caminho, dando voltas e até mesmo perguntando a um conhecido ou outro se viram alguma Totodile. Um deles apontou para o leste, um pouco depois da onde estava e por entre as pessoas que circundavam, viu um relance de alguém de cabelo azul claro.

E andando a passos pesados, sentiu que havia um longo caminho para percorrer até a garota, que conversava alegremente com um grande Taurus, vestido com um avental acinzentado.

Nesse intermédio, Shimezo pensou em como Sally também era um pouco ingenua. Sabia que ela bolava algumas estrategias, pois ela e Ellie falavam alegremente disso no café da manhã. De como algumas funcionavam, e outras não chagarem nem perto do que pretendiam. Mas acreditou que Sally seguiria oque dissesse e escolhesse ficar perto, não explorando o lugar.

Foi quando a ficha caiu, que Sally sempre gostava de explorar lugares. Era o obvio e não se atentara a isso. E se isso chegasse a Guilda? Como explicaria a Maya? Shimezo apenas queria mostrar outros meios a Sally, mas errara. Todos os pensamentos negativos começaram a pertuba-la, circulando sua mente, forte como uma correnteza. "Droga", dizia para si mesma.

Quando iria chamar a garota, a mesma a avistou e acenou com a cabeça. Quase a chamou pelo nome verdadeiro, porém se corrigiu no ultimo instante.

- Lyssa, devemos ir. Por que você veio até aqui?- Tentou conter a voz, escondida na sua mascara.

- Ah, veja, o senhor Lincon está fazendo uns espetinhos de Berries. Legal não é?

Ela olhou para o homem, que tinha uma grande barba e a cabelo enrolando numa traça longa. Ele usava luvas para virar os gravetos que tinham diversas berries, cada uma exalando um cheiro delicioso.

- Aqui está, jovem Lyssa. É um prazer cozinhar para alguém que aprecie dotes culinários.

- Eu que agradeço, seu Lincon! Espero vir aqui de novo.

E acenando com a cabeça, se virou e rumou para a praça, onde ficava a cratera.

- O que pensou que estava fazendo?

- Eu tenho fome, poxa. E olha isso, o cara caprichou legal nesse espeto!

Sally deu uma mordida nas berries e nas gummis, enquanto Shimezo olhava perplexa. Da onde surgiu tanta coragem? Apenas seguiu a Totodile, que sentou num banco de madeira em frente ao grande buraco.

- Aqui aqui, prova essa purple gummi, deixei pra você.

- N-não, eu não quero.- E virou o rosto.

- Bom, então eu te dou. Olha o Wingull...

- N-não!

E antes que percebeu, Sally abaixou seu lenço e enfiou a Gummi quente na garganta de Shimezo. Shimezo ficou estática, não sabendo como reagir.

- Viu, falei que era boa não era? - Sorriu, jogando o espeto vazio numa lixeira perto dali.- Qual é o lance dessa cratera?

- ... Você me viu.- Disse, se cobrindo.

- Você acha que eu não vi seu rosto antes? Nós usamos o mesmo banheiro, tomamos café da manhã e jantamos também. Você come por de baixo do seu lenço sem sujar, é mo estranho. Não tem nada demais no seu rosto, por que esconde?

- Você não entenderia.- Resmungou. Shimezo escondia seu rosto por suas próprias razoes, físicas ou emocionais.

"O que Sally havia dito? Que não havia nada demais? Como?"-pensou Croagunk, sua face um pouco avermelhada.

- Olha essa cratera que coisa bizzara ne? WOOOOOO! Como foi que ela surgiu aqui? Foi um meteoro? ME DIZ ME DIZ!

- Não é esse o ponto.- Disse, reclamando da nova euforia de Sally.- Devemos ir embora.

- MAS ACABAMO DE CHEGAR!.- E Sally olhou para ela, se levantando.- Você e essa cratera não tem nada demais. Vocês dois existem e pronto. Mas ela não se esconde, não é? WOO, O QUE É AQUILO LÁ?

- Lyssa. Vamos. Embora.

- Sim, sim, eu sei onde fica a saída.- Falou Sally girando os olhos.- Eu só não sei como você fez o esquema no corredor.



 * * *


Quando saíram da Feira da Meia noite, Sally se deu de novo com aqueles corredores estranhos. Haviam andando tanto e por diversas curvas que não conseguiu memorizar o caminho para a Guilda. Agora, mas demais coisas foram relativamente fáceis. E sentiu sua cabeça começar a virar, como se visse duas Croagunk no corredor. Por fim cambaleou.

- Sally.- Sscutou alguém dizer, segurando antes dela cair, como se tivesse controlado a sua fúria ao dizer o seu nome. Alguém estava bravo. - Por Arceus, você não pode cair agora!

- NoOOOOouuusaaa!-Gritou, a cabeça pendendo para trás.- Mano, eu te falei que vi umas coisas nova? Tá ligada naquela-

- Não é esse o ponto Sally. Vamos, abra a boca.

- M-minha nossa, não sabia que você era tão rude...- E Sally corou, fechando os olhos.

- N-NÃO É ISSO SUA PATETA.- Gritou, com raiva e quase querendo largar Sally.- Se você não bebe esse Elixir, não sei o que acontece com você!

- O-ohaaaaaaaaaaa!

Nesse intermédio, Shimezo abriu a tampa do pequeno frasco, e apenas despejou pela garganta de Sally. A garota quase engasgou, e se retorceu no chão, tentando respirar. Ela tossiu e tossiu, e por fim parou de se mexer.

Shimezo bufou e bufou. Decidiu que havia tempo, então esperaria Sally acordar.



* *



Num lugar desconhecido,  não se faz movimentos bruscos, pensou. Você apenas age como os outros, ou tenta literalmente, agir "naturalmente." Mesmo quando se separou de Shimezo, sabia que aquele cheiro de Berries assando, não veria tão cedo. Para Sally, foi apenas como uma Dungeon, e Sally sabia como se comportar em Dungeons.

- Ei, Shimezo, obrigada por hoje.- Disse simplesmente quando pararam.

Croagunk fez uma sequencia de gestos e uma escada de madeiera simples surgiu acima delas, descendo até encostar no chão.

- De nada. Apenas... Não faça isso de novo.

- Puxar a bandana ou sumir do nada?

- Os dois.- Disse, segurando na escada com força.- Se algo acontecer, não sei como eu diria a Guilda.

- Vocês esquecem que eu faço Dungeons todo dia não é?- Disse com um ar convencido.

- Sally, você ainda é uma amadora nesse mundo. Algumas coisas não funcionam bem assim como pensamos ou como queríamos.

- Hey, aquele homem, o Sawk, era parente seu não era?-Disse, mudando de assunto novamente.

- O que faz com que você pense isso?

Os olhos de Sally brilharam e ela esboçou um sorriso.

- Vocês se tratam como conhecidos e são bem parecidos fisicamente. Quando ele mencionou que fez bem ao me trazer aqui, pensei que você pode ter passado algum tempo com ele.

- Ele... era o meu pai.- Disse, abaixando os ombros.- Eu aprendi essas coisas com ele.

- Oh.

- D-de todo modo, devemos ir indo. Já deve ser quase de noite na Guilda.

- O tempo passou bem rápido aqui em baixo né?

- É. Rápido até demais.



* * *


- Minha nossa Dona Ellie, não sabia que a senhora gostava de doces...

- A-ah, não, nada demais certo? É só não exagerar certo?-

Ellie acabou por ajudar os irmãos Klo a fazerem compras. Na loja de doces da Clefairy, a Snivy segurava duas cestas. Haviam completado todos os itens da lista dos irmãos Klo (que não era muita coisa) e dissera para passarem na loja de doces. Acabou se animando também, ficando contente pela excitação dos irmãos a olhar a cascata de Oran Berry.

Quando viu que o dinheiro deles estava acabando, e eles haviam pego mais coisas do que deveriam, Ellie pensou em avisa-los. Eles sabiam fazer contas de matemática, verificar frutas e preços. Mas parecia que, na loja de doces da Clefairy, eles extrapolaram.

"ISTO NÃO IMPORTA. EU. DEFINITIVAMENTE LEVAREI TUDO PARA ELES."- Pensou Ellie, determinada.

Com isto em mente, Ellie mesmo deixou várias coisas. Chegou a pensar que não precisaria disso tão cedo. Escolheu uma coisa ou outra, enquanto levava a cesta de Carl e Harold.

Correndo pelos corredores, eles pareciam pegar o que mais gostavam. Seja pelo sabor, pelo brilho da embalagem, colocavam tudo na cesta. Ao que pareceu, decidiram por fim avaliar o que realmente levariam.

Tiraram quase metade da cesta, ficando incrivelmente mais leve. Ellie nada falou, mas observou como eles agiam e conversavam.

- Se a gente levar isso, não vai sobrar pro Milkshake.

- Quem precisa de Milkshake quando se tem essas barras?- Mostrou o irmão, balançando no ar.- Vamos ficar com isso.

- Hump. Você não sabe o que tá fazendo! A mãe vai ficar muito brava!

- Meninos.- Chamou Ellie.- Está tudo bem. Eu levo essa cesta e pego um Milkshake pra vocês.

-OH?

- Mas, Dona Ellie, isso não vai te prejudicar?- Disse o Poochyena, com os olhos arregalados.- Obrigado por ser gentil, mas a gente-

- OUVIU ISSO HAROLD?- Gritou.- NÓS VAMOS PEGAR ISSO DE GRAÇA.

E ao dizer isso, é como se todos os Pokémon da loja se virassem para vê-los. Ellie suspirou, se agachando na altura deles.

- Meninos, ouçam.- Disse baixinho, para eles ouvirem.- Eu posso levar hoje pra vocês, não há problema. Mas, apenas se vocês ficarem comportados. Se não eu conto pra mãe de vocês.

Carl, o Zigzagoon pareceu querer falar algo, mas seu irmão tapou sua boca e falou.

- M-muito obrigada Dona Ellie! Espero que um dia possamos fazer algo pra te recompensar...

- Sem problemas!- Disse feliz. - Vamos indo pro caixa?

*


No final do dia, Ellie se sentou numa das mesas do Spinda Bar. Fez um pedido, e aguardou com os pequenos irmãos. Harold parecia ter um pouco de vergonha ainda tímido. Totalmente o oposto de Carl, que mal aguentava ficar parado na cadeira.

Já Ellie, apenas os observou conversarem, e ver como eles diziam coisas sobre si.

- Mas, pera, você quer dizer que há Pokémon com cores diferentes??

- Sim, Carl.- Disse o Poochyena, girando os olhos.- Eu já te falei isso!

- Ué, eu esqueci. Com é um Magikarp colorido? Ele é azul?

- Eu não sei. Nunca vi um.

Ellie acabou se interessando. Ela ousou perguntar.

- Pokémon coloridos? Aonde você viu isso, Carl?

O jovem Poochyena acabou ficando tímido. Ele tentou falar, mas sua voz saiu estranha e atrapalhada.

- B-bom, Dona Ellie, é que é um segredo... Mas...

E ela chegou mais perto, ouvindo mais atentamente.

- É que... nossa mãe é um pouco diferente... Ela não é uma Mightyna comum... Ela é amarela, sabe?

- É-é! Por isso ela ficou na cama por alguns dias... Ela acha que pode passar e acordar como os outros. Mas pela pegou um resfriado, e nos estamos ajudando ela!

- Oh. Entendo. Quer dizer, que legal que sua mãe é diferente! Eu nunca vi um Pokémon com uma cor muito diferente.

Um tempo depois, seus pedidos chegaram. Os irmãos Klo se animaram, logo acabando com a bebida adocicada. Não demorou para conversarem de outras coisas- a maioria dizendo coisas de sua mãe. Por fim, quando estavam na Crossroads, eles se despediram, mexendo as sacolas e dando um grande abraço em Ellie, que os abraçou de volta.

- Espero ver vocês de novo, Carl e Harold. Sejam bons meninos para a mãe de vocês, certo?

- Certo!

Afagou a cabeça deles uma ultima vez, e se despediu. Os observou de longe, até que sumiram.

Ellie respirou fundo, e sentido-se revigorada, espreguiçou-se. Decidiu voltar para Guilda e procurar algo para ler, ou até mesmo conversar om alguém.

Dando meia volta, ela caminhou feliz, sem perceber que, acidentalmente, se esbarrou com alguém.

- Ah! Mil perdões! Me desculpe eu-

- Está tudo bem.- Falou o Pokémon.

Era uma mulher com capuz cinzento. Ela tinha olhos vermelhos, e usava um tapa-olho. Seu cabelo era curto e preto, e era muito alta. Não conseguiu dizer que Pokémon era esse.

- ...Você faz parte dessa guilda?- Perguntou, a voz quase que sumindo.

- A-ah, sim! Eu faço.

-Ah. Entendo.- E ela mexeu a cabeça, como se acenando para si mesma.- É bom ter amigos e um lugar para voltar.

E subitamente, tudo ficou estranho. Ellie sentiu uma pontada em seu coração. Tão dolorosa que chegou levar a mão ao coração, tentando respirar. Sentiu-se presa, como se o ar tivesse sumido, e não conseguia respirar, nem se mover.

- B-bom, foi bom te conhecer.- Falou a mulher, desviando o olhar.- Adeus.

E se virou, tomando a direção oposta a Crossroads. Ela rapidamente sumiu, e Ellie permaneceu parada, tentando processar o que aconteceu.










Leave a Reply

Subscribe to Posts | Subscribe to Comments

- Copyright © 2016 Pokémon Mystery Dungeon: A Fanfiction - Escrito por White Vir Scarlet (WV) - Powered by Blogger - Designed by Johanes Djogan -